April 8, 2025


Reflexões sobre solidão, liberdade emocional e o script invisível que ainda seguimos sem perceber.


Pensar é Minha Necessidade Vital


(Prólogo – Abertura pessoal)

Assim como Van Gogh não podia viver sem pintar,
eu não posso viver sem pensar.
Não é um passatempo.
Não é vaidade intelectual.
É necessidade. É pulsação. É fio vital.

Pensar é o que me ancora e o que me move.
É onde minha mente respira,
onde minha alma encontra espaço.
Enquanto alguns sentem urgência em criar, em atuar, em se movimentar —
eu sinto urgência em entender. Em investigar. Em atravessar.

Preciso estudar.
Preciso filosofar.
Preciso expandir consciência — todos os dias.

Se não estou mergulhada em algo que me desafie intelectualmente,
me sinto oca. Sem presença. Sem voz.

Minha arte começa antes da obra.
Ela começa no pensamento que incomoda,
na pergunta que não tem resposta fácil,
na inquietação que pede forma.

Eu penso, logo me transformo.
E é só através desse processo que posso transformar o mundo ao meu redor.

Quem Disse Que Só Se Vive Bem a Dois?

📺 Um filme, um desconforto

Hoje assisti ao novo filme da franquia Bridget Jones, lançado este ano.
Mais uma vez, Bridget enfrenta a pressão de estar sozinha, de recomeçar, de se “reencontrar com o amor”. É o típico filme feito para agradar um público amplo, com suas doses de humor, drama e aquela velha promessa reconfortante de que, no fim, tudo vai dar certo — quando o “certo” é estar com alguém.

Mas, ao terminar o filme, fiquei com uma sensação estranha.
Não era frustração, nem cinismo.
Era apenas uma pergunta:

Por que ainda compramos tão facilmente a ideia de que a única forma legítima de felicidade é estar em casal?
E mais: quem foi que colocou isso na nossa cabeça como sociedade?

Porque a verdade é que muitos filmes, músicas e livros — produzidos para o grande público — vendem esse modelo como se fosse universal. Como se fosse a rota natural e inevitável da vida. Como se, sem ele, estivéssemos falhando.


Talvez o verdadeiro desafio

Talvez o verdadeiro desafio seja aprender a estar bem com a própria presença…

  • Como fomos condicionados a buscar o outro como “metade”.
  • O silêncio como espaço fértil de autoconhecimento.
  • Relacionamentos conscientes × relacionamentos por carência.
  • A beleza selvagem da solitude — como uma onça na floresta.


O Amor Romântico e Sua Promessa de Proteção

Vamos ser justos: há algo muito bonito e poderoso em ter um vínculo afetivo.
Ter alguém com quem dividir a vida, com quem rir, chorar, viajar e atravessar as noites difíceis.
Um relacionamento saudável pode oferecer proteção emocional, apoio, prazer e crescimento.
Estar acompanhado pode ser uma das experiências mais profundas da existência.

Não é à toa que a ideia do “par ideal” é tão sedutora.
Ela nos dá um mapa: encontre a pessoa certa, e tudo vai se encaixar.

Mas talvez seja justamente aí que mora o problema.

A Pergunta que Incomoda

E se esse modelo não servir para todo mundo?

E se ele não for obrigatório? E se, para algumas pessoas, o caminho da realização for outro?

A verdade é que vivemos condicionados por uma narrativa muito poderosa — e invisível.
Uma espécie de script social que diz que, se você não casar, ter filhos ou formar um “nós” até certa idade, tem algo de errado com você.

Esse condicionamento é tão profundo que muitas vezes internalizamos o preconceito sem perceber.
Existe uma crença enraizada de que, se você está só, é porque não é suficientemente “amável”,
ou porque tem algo quebrado em você.

Como se a ausência de um relacionamento fosse prova de inadequação —
e não uma escolha legítima, ou uma fase natural.


O Preconceito Silencioso Contra os Solteiros

Pessoas solteiras são frequentemente vistas como incompletas, egoístas, imaturas ou tristes.
A mídia reforça constantemente essa ideia: solteiras são as que “não deram certo”,
as que “foram deixadas para trás”.

Mas essa visão é limitada — e cruel.

A psicóloga e pesquisadora Bella DePaulo, referência mundial nesse tema, chama esse preconceito de singlismo.
Em seus estudos, ela revela como pessoas solteiras são injustamente tratadas como “menos adultas” ou “menos bem-sucedidas”,
e como muitas pesquisas científicas são distorcidas para valorizar o casamento como padrão ideal.

DePaulo mostra que muitas pessoas solteiras:

  • Cultivam relações mais diversas e duradouras (amizades, laços familiares, redes de apoio).
  • Têm maior autonomia emocional e crescimento pessoal.
  • São mais engajadas em atividades criativas, espirituais e sociais.

E o mais importante: não estão “faltando” nada.


O Que Diz a Neurociência

A neurociência comprova que nós precisamos de vínculo,
mas não necessariamente de um relacionamento romântico para viver com bem-estar.

  • O cérebro libera ocitocina (hormônio do afeto) em relações de amizade profunda, contato com animais, conexão espiritual, prática de meditação e até em rituais de cuidado consigo.
  • Estudos da Universidade da Califórnia indicam que sentimentos como amor, pertencimento e propósito podem ser cultivados de formas múltiplas, não apenas dentro de um casal.
  • O famoso Harvard Study of Adult Development, que acompanha pessoas há mais de 80 anos, mostra que o fator-chave para uma vida longa e feliz não é o casamento em si, mas a qualidade dos vínculos — sejam eles familiares, amorosos ou de amizade.


Solidão Ativa: A Escolha dos Felinos e dos Monges

Há exemplos simbólicos que nos ajudam a enxergar a solidão sob outra luz.

Felinos selvagens, como a onça, o lince e o puma, vivem sozinhos por instinto.
Caçam, se deslocam e se protegem de forma independente.
Sua força é silenciosa.
Sua liberdade é inegociável.
Eles não evitam vínculos — apenas não os colocam no centro da própria existência.

Do outro lado, temos os monges Shaolin, que também escolhem a solitude como caminho.
Eles fazem voto de celibato, vivem em mosteiros e treinam corpo e mente como forma de lapidar a presença.
Não se casam, não por repressão, mas por transmutação.
Canalizam energia vital em direção à consciência, não à distração.
Cultivam o silêncio, o foco, o autocontrole — como forma de liberdade.

Tanto os felinos quanto os monges são arquétipos vivos de um estado que poucos de nós aprendemos a cultivar:
a solidão ativa.
Aquela em que o silêncio não oprime, mas fortalece.
Em que o estar só não é falta — é forma de plenitude.


Conclusão: Amar-se Até Não Depender

Não se trata de negar a convivência, o afeto ou a parceria.
O ponto é outro: não depender disso para se sentir inteira(o).

Porque amar-se até o ponto de não depender de vínculos para existir com dignidade — isso é revolução.

A verdadeira liberdade emocional talvez não esteja em encontrar “a metade da laranja”,
mas em descobrir que você já é inteira(o).

E que, se algo ou alguém vier,
que venha para somar, não para completar.
Que venha como encontro de inteiros, não como união de metades.

Porque aquilo que realmente transforma não é o que te tira de você — é o que te revela a você mesma(o).


Epílogo – Olhar embaixo do tapete

Depois de tudo isso, percebo que essa reflexão vai muito além da pergunta “casar ou não casar”, “estar só ou acompanhado”.
Essa é só a camada visível. A superfície polida.

O que está por trás é muito mais profundo.

A verdadeira questão é: estamos vivendo por escolha ou por condicionamento?

Crescemos sendo alimentados por narrativas que nos dizem como viver, o que desejar, o que conquistar.
E uma das mais fortes é essa:
que precisamos estar em casal para sermos completos, válidos, aceitos.

É como se essa ideia tivesse sido varrida para debaixo do tapete cultural.
Está ali. Escondida. Operando.
Determinando escolhas, gerando angústias, moldando vidas inteiras.

Mas o que acontece quando paramos e olhamos ali — debaixo do tapete?
Quando começamos a ver que talvez estejamos todos alienados?
Repetindo padrões, encenando roteiros, seguindo scripts que nem escolhemos?

Então percebemos que a pergunta real não é:
“Você vai se casar?”
Mas sim:
“Você está consciente das escolhas que está fazendo?”
“Você está acordada(o)?”

Porque estar em casal ou não… não é o ponto.
O ponto é estar desperto.

Desperto para o que realmente ressoa em você.
Para o que vem da sua verdade — e não da expectativa alheia.
Para o que você quer viver, e não apenas repetir.

Viver no automático é o que esvazia.
Ser moldado por narrativas que não questionamos é o que nos adormece.
O verdadeiro ato de liberdade é olhar embaixo do tapete — e não desviar o olhar.

Olhar o medo de estar só.
Olhar a idealização do par.
Olhar a dependência disfarçada de amor.
Olhar o quanto ainda somos movidos pela falta — e não pela escolha.

E a partir desse olhar cru, nu, sem adorno,
começar a viver uma vida que seja sua.
Mesmo que isso signifique nadar contra a corrente.
Mesmo que doa sair do script.

Porque no fim, não é sobre estar com alguém.
É sobre estar inteira em qualquer lugar.

Marcia Do Vales


Citações para encerrar o blog

“Nada faltando, nada quebrado, nada fora do lugar.”
— Bispo Bruno Leonardo

    “Sou grato por tudo o que tenho.”
    — Tony Robbins

      “Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta.”
      — Carl Jung

        “Ser solitário é um privilégio da liberdade interior.”
        — Hermann Hesse

          “A felicidade da sua vida depende da qualidade dos seus pensamentos.”
          — Marco Aurélio

            “Não quero que me ame pela metade. Quero tudo ou nada. A inteireza ou o abismo.”
            — Clarice Lispector

              “A liberdade não consiste em ter um bom senhor, mas em não ter nenhum.”
              — Cícero

                “A solidão não é ausência de amor, mas seu complemento.”
                — Rainer Maria Rilke

                  “Você, tanto quanto qualquer pessoa no universo, merece seu amor e afeto.”
                  — Buda

                    “A verdade não está com quem grita mais, mas com quem tem mais silêncio por dentro.”
                    — Alejandro Jodorowsky

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